Oi, como vai?
Hoje estou aqui para trazer uma discussão sobre um tema que acho bastante pertinente: as leituras obrigatórias. As leituras obrigatórias são aqueles livros que a escola faz com que você leia para resolver alguma prova, algo que divide opiniões. Afinal, esses livros estimulam o aluno a ler, ou mostram àquele que odeia livros que literatura é algo realmente muito chato?
Estou no segundo ano do ensino médio e, desde o quinto ano (pelo que me lembro, mas pode ter sido antes) no colégio tenho que ler livros para provas. Os livros de antigamente eram todos fofinhos, cheios de ilustrações, com histórias tranquilas e perguntas fáceis nas provas. Mas, como não poderia deixar de ser, o nível dos livros e das provas aumentou, até que hoje, no colegial, lemos clássicos da literatura brasileira e respondemos a questões com enunciados gigantes e complicados.
Hoje em dia, no colegial, entendo que devemos ler esses livros por causa das listas dos grandes vestibulares. A Fuvest, da USP, o vestibular da Unicamp, todos eles requerem a leitura de alguns livros clássicos da literatura brasileira. Essa lista muda de certo em certo tempo, e é dever das escolas, no colegial, fazer com que os alunos leiam e realizem estudos em cima desses livros para que cheguem a esta grande prova preparados para a pergunta que vier. Nesse campo, não há questão de ser um estímulo ou não, afinal a escola não está nem aí se você gosta de ler fora dela ou não, mas sim que você saiba o que acontece em determinada obra para que passe em uma boa faculdade.
Mas, por trás de tudo isso, eu, como aluno, observo as reações dos colegas há muitos anos com relação aos livros que devemos ler, e são as mais diversas. Agora, no colégio em que estudo, recebo os livros com as apostilas, já com cara de estudos e não de literatura para, bem, nosso prazer. E posso ver muitos dos colegas deixando os livros completamente de lado, dizendo que pesquisarão resumos e ficará por isso mesmo.
Certo dia, estava eu com uma colega quando ela me pediu o livro Contos, de Machado de Assis, para ler, pois tinha esquecido o dela em casa. Emprestei no momento, como o cidadão solidário que sou, mas percebi que ela dobrou completamente o livro pra ler, como se fosse uma dessas revistas de fofoca que trazem spoilers dos finais das novelas na capa. Mas o pior foi que, quando pedi a ela para que não segurasse daquela maneira, ela me indagou: "Mas você vai guardar esse livro depois?".
Fiquei um tanto perplexo, pois era óbvio que eu guardaria e que ela não faria o mesmo com o dela. O livro é dela, ela trata da maneira como quiser, mas foi muito estranho observar que, para ela (na verdade, para muitos), o livro era uma coisa descartável, que perderia completamente a utilidade após a prova.
Ver o descaso com que as pessoas que não têm o costume (talvez o dom) de ler tratam os livros para provas me fazem pensar: qual é a utilidade deles para a formação de leitores, afinal de contas?
Muitos livros podem ser cansativos, como Iracema, de José de Alencar que, confesso, foi o único que recorri aos resumos por não conseguir ler de jeito algum (é uma escrita cansativa e uma história que, ao menos para mim, não trouxe nada de interessante), mas muitos dos livros trazem histórias muito boas e que mereceriam mais... consideração.
Para uma pessoa como eu, que ama leitura, não é problema algum ler livros da escola, que trato com tanto zelo quanto trato os que compro/ganho, mas fico refletindo sobre o papel deles com aqueles que não gostam. Nunca é tarde para descobrir os prazeres da leitura mas, se aquela pessoa que não gosta de ler tiver que ler apenas livros complexos, que trazem uma linguagem quase estrangeira para ele, que ele será pressionado a terminar para responder a algumas questões, qual será o prazer nisso?
Conversando com alguns amigos há alguns anos, quando ainda estava no fundamental, descobri algumas escolas com esquemas mais interessantes: dos três ou quatro livros do ano, um poderia ser escolhido pelos alunos. Assim, cada um poderia descobrir do que gosta, e talvez, a partir daquele, começar a ler muitos outros que não fossem obrigatórios, só pelo prazer de ler.
Entendo que isso não pode ser feito no colegial, justamente por causa da enorme carga de matéria e pelo fato de lermos esses livros por um motivo maior que não é a descoberta da leitura, mas, se desde o fundamental esse hábito é tratado de maneira obrigatória, como uma criança/pré-adolescente desenvolverá gosto por isso?
Os livros obrigatórios, que teriam como objetivo principal estimular o hábito de leitura, pode acabar tornando a prática um calvário para os alunos e, aí, como fazer para que essa imagem seja mudada em suas mentalidades?
Nos meus primeiros dias de aula neste ano, um professor perguntou à sala quantos livros tinham lido no ano, tirando os obrigatórios. Respondi "por volta de trinta", o que foi uma resposta um tanto chocante para os alunos que, em suas respectivas vezes de responder, lançavam "hm... nenhum", ou, o que é pior: "nem os obrigatórios eu li".
Nos meus primeiros dias de aula neste ano, um professor perguntou à sala quantos livros tinham lido no ano, tirando os obrigatórios. Respondi "por volta de trinta", o que foi uma resposta um tanto chocante para os alunos que, em suas respectivas vezes de responder, lançavam "hm... nenhum", ou, o que é pior: "nem os obrigatórios eu li".
Fazendo uma breve pesquisa, já encontrei manchetes desanimadoras e que provam que as leituras obrigatórias não tem muita força no ato de formar um leitor. Pelo contrário:
A redução da leitura foi medida até entre crianças e adolescentes, que leem por dever escolar. Em 2011, crianças com idades entre 5 e 10 anos leram 5,4 livros, ante 6,9 registrados no levantamento de 2007. O mesmo ocorreu entre os pré-adolescentes de 11 a 13 anos (6,9 ante 8,5) e entre adolescente de 14 a 17 (5,9 ante 6,6 livros).
Fonte: Veja
Para a supervisora da Fundação Educar DPaschoal, a queda no número de leitores se deve, principalmente, à falta de incentivo dos pais, mas essa é uma discussão para outro post. Como podemos perceber já nesse trecho, a leitura obrigatória nada está fazendo para formar novos leitores, com ou sem incentivo familiar.
Agora lanço a vocês também essa discussão: você aí, que está lendo esse post, tendo um blog ou não, o que pensa sobre o assunto? Você acha que leituras obrigatórias ajudam a formar novos leitores, ou que acaba deixando-os com ainda menos vontade de ler?
O pior tipo de analfabeto é aquele que sabe ler, mas que não lê. E essa taxa de analfabetismo não para de crescer no Brasil.
O pior tipo de analfabeto é aquele que sabe ler, mas que não lê. E essa taxa de analfabetismo não para de crescer no Brasil.