domingo, 15 de maio de 2016

Vamos falar sobre Dom Casmurro

Oi, migos, como vão?
Hoje estou aqui (depois de mais um hiatus imenso, perdão) para falar sobre um dos maiores e mais comentados clássicos do nosso país, escrito por um dos melhores autores da literatura brasileira (e, particularmente, meu favorito): Dom Casmurro, de Machado de Assis!
O livro nos leva em uma espécie de tour psicológico pelo desenvolvimento da relação entre Bentinho e Capitu, que começou como uma história de amor muito belezinha, mas que terminou com uma atmosfera de muita desconfiança e até mesmo de ódio.
Bento e Capitu sempre foram muito próximos, crescendo praticamente juntos, e, ao chegarem à adolescência, perceberam que o que sentiam um pelo outro era, na verdade, amor. Acontece que, quando ele nasceu, sua mãe fez uma promessa que envolvia, como parte do cumprimento, mandá-lo para um seminário quando ficasse mais velho, para que ele se tornasse padre.
Não precisa nem dizer que essa promessa tornou-se um enorme empecilho para o relacionamento dos jovens. Traduzindo, bugou completamente o rolê dos dois. Bentinho, sem muita voz ativa para enfrentar a mãe sobre as decisões que envolviam sua própria vida, nada fez para tentar mudar isso, e lá foi para o seminário, sendo separado da amada.
Ele não se torna padre, vale ressaltar, mas, pelo menos, o seminário serviu para que conhecesse aquele que vem a ser seu melhor amigo, Escobar (que, by the way, também não vira padre).
Depois de muito tempo, já adultos, Bentinho finalmente se casa com Capitu, com quem tem um filho. Sua família e a de Escobar eram muito próximas e, quando o rapaz morre, todos estão presentes no velório. É aí que tudo começa a desandar.
Bentinho sempre deixou transparecer que é um homem muito ciumento (bem inseguro com relação ao próprio taco, digamos), mas o ciúme atinge seu ápice ao ver a esposa chorando pela morte do amigo. Ele enxerga, no jeito com que Capitu sofre pelo defunto, o sofrimento de quem perdeu o amado, e, à partir de então, torna-se desconfiado de um jeito bem doentio, chegando até mesmo a acreditar que seu filho é, na verdade, filho do melhor amigo. 
Daí vem a clássica pergunta: Capitu traiu ou não? E a resposta mais clássica ainda: não sei. Ninguém sabe.



Essa dúvida é plantada de maneira genial por Machado. De certa forma, ele nos dá motivos para acreditar nas duas possibilidades, e nunca, em momento algum, fica explícita a resposta para a grande questão.
Quando eu era mais novo, eu acreditava que fosse um segredo universal que todos aqueles que leram o livro guardavam para si, como um spoiler que, se fosse dado, tiraria toda a graça da coisa. Mas a verdade é que a resposta não está lá! Quer dizer, está. Mas não está.
Pra começar, a narração é em primeira pessoa, o que já deixa qualquer conclusão muito mais difícil. Bentinho é um narrador nem um pouco confiável. Primeiro, porque é bem louco de ciúmes, então é claro que, vendo por seus olhos, qualquer coisinha que Capitu faça pode parecer uma coisona enorme. Segundo, por mais e mais motivos que não vou contar porque, né, faz parte da graça do livro.
Por outro lado, Capitu é descrita como uma mulher bem espertinha desde sempre, que sabe fingir muito bem, quando precisa. E, assim como disse sobre Bentinho, há mais alguns motivos cuja descoberta dá graça ao livro.
Particularmente, acredito que ela não traiu. Mas essa conclusão não passa de achismo, e isso é um dos principais fatores que perpetuaram Dom Casmurro como um dos maiores livros da nossa literatura, conseguindo se manter vivão até hoje e prometendo continuar assim até, tipo, sempre.
É uma narrativa lenta, não nego, mas isso se deve principalmente ao fato de ser muito reflexiva, o que torna a leitura muito gostosa de se acompanhar. Se você, assim como eu, preza pela profundidade dos personagens, e gosta de acompanhar character development, esse livro é um prato mais do que cheio!
Machadão faz uma verdadeira viagem pelos pensamentos mais obscuros de Bentinho, e nos sentimos realmente imersos. É muito interessante a maneira como os lugares e a aparência física parecem nem ter tanta importância, mas os olhares, os gestos mais repentinos, tudo ganha muita atenção e faz toda a diferença (Capitu, por exemplo, tem os olhos como uma de suas principais características, como se fossem a janela de sua alma). Para quem se interessa por psicologia, está aí outro prato cheio.
Mas, já aviso: é um livro que não deve ser lido como qualquer outro. Deve-se estar sempre atento às entrelinhas. Nada é desperdiçado, e as palavras estabelecem uma harmonia perfeita entre si, como se fossem escolhidas com o maior dos cuidados por parte do autor para dar o efeito desejado. 
Tive que ler para a escola, mas, sem dúvidas, foi a melhor leitura obrigatória que já tive na vida!
Recomendo muito, mas, já que pode não ser um livro que você lerá como lazer em uma tarde ensolarada de domingo, digo pelo menos que não reclame quando seu colégio te mandar lê-lo, e não perca essa oportunidade com resumos ou com uma leitura rasa. Você nem imagina a joia que terá em mãos!

Espero que tenham gostado, até a próxima ;D

P.S. E aí, traiu ou não?

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Refletindo sobre 2015: os livros de que menos gostei


Oi migos, tudo bem?
Hoje eu estou aqui, na parte três da minha série deveras legal, para falar mais um pouco sobre as leituras de 2015. Se no último post falei um pouco sobre os que mais gostei e que entraram para o hall da fama da minha vida como leitor, hoje falarei sobre aqueles que entraram na lista negra. Não colocarei em ordem específica, porque não consigo achar o que desgostei mais, então virá em uma ordem puramente aleatória.
Vamos lá?

O Fantasma de Canterville



É louco como o autor, Oscar Wilde, pode estar tanto na minha lista de favoritos como na lista de desfavoritos (acho que esse termo não existe, mas vocês me entenderam). Assim como ele escreveu aquela oitava maravilha do mundo chamada O Retrato de Dorian Gray, ele também escreveu esse livro de contos, encabeçado por O Fantasma de Canterville (daí o nome da obra), um livro tão sem graça mas tão sem graça, que precisei me forçar a terminar. O primeiro conto é o mais divertido (ou menos chato, pense como quiser), que conta a história de uma família americana que se muda para uma mansão inglesa, que é assombrada por um terrível fantasma. Acontece que, descrentes, a família simplesmente caga e anda não liga para o fantasma lá, e ele passa o conto tentando se reinventar e sofrendo com uma crise existencial. O conto em si vale bastante a pena, mas o resto do livro é um saco. São contos que simplesmente não te marcam, e que, mesmo que eu tenha lido, sequer lembro hoje para citar mais exemplos. Contou como uma leitura clássica, mas não gostei nem um pouco.

O Oceano no Fim do Caminho



Muito louco foi o post em que eu xinguei o livro, porque fui tão xingado de volta, tão apedrejado pela humanidade e tive minha vida como leitor tão questionada e julgada por gente que nem me conhecia, que foi uma experiência muito massa. De verdade. Acontece que eu não consegui gostar do livro mesmo, nem um pouco. E as pessoas não conseguem aceitar que alguém não goste do oh deus todo poderoso Neil Gaiman, então, obviamente, a culpa era inteiramente minha. 
Mesmo me sentindo meio ultrajado por conta disso, resolvi guardar o livro comigo, resistindo aos milhares pedidos de troca que chovem para mim no Skoob, e algum dia, no futuro, depois de ler mais algumas outras obras de Gaiman, pretendo reler e aí ver se eu continuo desgostando, ou se acabo vendo o livro com outros olhos.

The 100



The 100 foi um livro extremamente broxante, com o perdão da palavra. Eu ainda não sei exatamente o porquê de eu ter lido, porque eu nunca tinha me interessado de verdade, até um dia em que baixei o ebook aleatoriamente e falei "ah, vamos lá, né?". Acontece que, pela primeira vez na vida, preferi mil vezes a adaptação que fizeram sobre ele (no caso, a série). E mais incrível ainda: o motivo de eu ter preferido a adaptação é justamente o fato de ela ser completamente infiel à obra original, aproveitando só alguns dos personagens e a temática. Isso porque a temática é realmente legal, e eu gostei bastante, mas o aproveitamento que a autora dá é terrível e fica uma história que sai do nada, chega ao nada (com um romancezinho chatinho no meio) e acaba. Assim, é isso. 
Eu tinha uma leve curiosidade para saber como era a história "original", já que sempre ouvi falarem que, em quesito adaptação, a série era bem ruim. Pelo menos eu sei como é, e posso recomendar como um livro que você não precisa perder seu tempo pra ler. 

A Outra Volta do Parafuso

Esse livro foi do luxo ao lixo em questão de páginas (eu não o joguei no lixo mesmo, é só a expressão). Isso porque ele começa muito bem, com uma história instigante sobre uma mansão assombrada por dois fantasmas aparentemente terríveis. Essa foi uma das trocas que realizei no ano, e que foi muito massa pelo fato de eu ter trocado um livro que detestei por um que, adivinha, detestei também (mas pelo menos esse é clássico da literatura de terror, né).
Como eu disse, o início é realmente promissor, e a descrição das aparições é bem intensa e chega a te dar calafrios, sensação do terror que eu não imaginava que um livro conseguiria despertar. Acontece que, mesmo que a trama seja interessante, o livro desanda, e o final foi tão decepcionante que eclipsou qualquer ponto positivo no meio.

Bom, esses foram os livros mais "nhe" que eu li no ano, e que entraram para aquela listinha de "migo, não leia se você puder evitar" (talvez não O Oceano no Fim do Caminho, mas os outros, sem dúvidas). E vocês, de que livros menos gostaram no ano passado?

Espero que tenham gostado, até a próxima ;D

sábado, 2 de janeiro de 2016

Refletindo sobre 2015: os livros de que mais gostei


Oi migos, como vão?
Ontem, dia primeiro de janeiro, eu comecei uma série de posts que, como o próprio nome sugere, vai servir como uma reflexão sobre o ano passado, um balanço, uma retrospectiva. Hoje estou aqui para a segunda (de muitas) partes desta série, na qual falarei um pouco sobre os livros de que mais gostei no ano passado.
Li muitos livros bem mais-ou-menos, confesso, mas também li alguns que entraram para o hall da fama da minha vida. Mesmo que eles não representem uma quantidade muito significativa do meu total de leituras, o ano já pode ser considerado produtivo só por eles.
Vamos lá?

4. O Bicho-da-Seda

Se eu não gostei tanto quanto eu imaginava de O Chamado do Cuco, sua sequência me surpreendeu de uma forma tão boa, que se tornou um dos melhores do ano e, em questão de policiais, da vida. Ele segue contando a história de Cormoran Strike e de Robin, sua secretária/assistente/John Watson. É um livro espetacular, que mistura tão bem todo o mistério e o suspense das obras do gênero com um leve toque de humor e uma narrativa (tanto o enredo quanto a escrita) tão deliciosa que não há como não se apaixonar. E sei que o próximo livro de Robert Galbraith será lançado ainda neste ano, não posso perder.

3. O Iluminado


Já falei bastante sobre ele na resenha que fiz, no finalzinho do ano passado, mas tudo bem, eu falo mais um pouco: é um suspense incrível, incrível em níveis absurdos, e te prende de uma forma que nem todo livro consegue. Além disso, como ressaltei bastante na resenha, ele tem uma profundidade psicológica realmente... profunda, e supera todas as expectativas que o hype sobre o filme clássico de Kubrick causam.

2. E Não Sobrou Nenhum

Este é o único livro de Agatha Christie que li no ano (uma tristeza, porque gosto tanto das obras dela e estou lendo muito pouco nos últimos tempos), mas já chegou de voadora com os dois pés e se tornou o melhor que já li dela, e um dos melhores que já li em todos os tempos. Para quem ainda não conhece, ele conta a história de um grupo de pessoas que são convidadas para o que seria uma confraternização em uma ilha deserta, cujo único contato com o continente é feito por um pequeno barco. Tudo fica muito suspeito quando ouvem uma gravação, acusando-os de crimes que cometeram em seus passados e pelos quais saíram impunes, e mais suspeito ainda quando um a um, os convidados da ilha começam a morrer numa espécie de ritual inspirado em uma cantiga infantil. É de se descabelar, e definitivamente marcou meu ano, dentre todas as outras leituras.

1. O Retrato de Dorian Gray



A última leitura do ano, e o melhor que li, Dorian Gray já se tornou um dos meus favoritos da vida e me marcou de um jeito que não tem como explicar direito. A obra de Oscar Wilde nos conta a história de Dorian, um homem absurdamente bonito, que percebe que a beleza é, no final das contas, a única coisa que ele tem. Quando um amigo, que é artista, pinta um quadro tão perfeito inspirado no rapaz, ele acaba vendendo sua alma e fazendo um perigoso pedido: que apenas seu retrato sofresse com as marcas do tempo e as manchas em sua personalidade, mas que sua aparência física ficasse sempre intacta.
Com o tempo, ele descobre que seu pedido foi realmente atendido, e que o retrato era como um reflexo de sua alma. Acontece que, sob más influências, passa a manchar cada vez mais seu caráter, perdendo cada vez mais seus escrúpulos e, o pior, sua humanidade, notando cada uma dessas mudanças em seu próprio quadro. 
É espetacular, um adjetivo realmente grandioso, mas que não se torna exagerado quando nos referimos a Dorian Gray. Foi uma obra muito escandalosa na época em que foi lançado (em 1800 e pouco), por denunciar de forma nua e crua todos os podres da sociedade inglesa, algo que todos os aristocratas, em sua vida de aparências, se esforçavam para esconder.
Além disso, a profundidade do livro é absurda, e temos ideais e passagens com as quais nos identificamos tanto que chega a ser assustador, de tão atuais.
Eu sempre voltarei a falar sobre esta obra aqui no blog, porque acho que nunca será o suficiente, mas tudo o que me resta a dizer agora é que vocês precisam ler, assim, urgentemente!

Esses, então, foram os melhores livros que li no ano de 2015. De 30 leituras, tive algumas obras bem ruins pelo caminho (sobre as quais falarei mais... amanhã!), mas tive o prazer de conhecer essas histórias em específico que já fazem as três dezenas terem valido à pena! 
Que livros mais marcaram vocês em 2015?

Espero que tenham gostado, até a próxima ;D