terça-feira, 11 de junho de 2013

Vamos falar sobre: Melancia

Melancia
Marian Keyes
Sinopse: Foi demais da conta para Claire o dia do nascimento da sua filha. Ao acordar no quarto do hospital depara com o marido olhando-a na cama. Deduzindo tratar-se de algum tipo de sinal de respeito, ela nem suspeita de que ele soltará a notícia da sua iminente separação: “Ouça, Claire, lamento muito, mas encontrei outra pessoa e vou ficar com ela. Desculpe quanto ao bebê e todo o resto, deixar você desse jeito...” Em seguida, dá meia-volta e deixa rapidamente o quarto. De fato, ele sai quase correndo. Com 29 anos, uma filha recém-nascida nos braços e um marido que acabou de confessar um caso de mais de seis meses com a vizinha também casada, Claire se resume a um coração partido, um corpo inteiramente redondo, aparentando uma melancia, e os efeitos colaterais da gravidez, como, digamos, um canal de nascimento dez vezes maior que seu tamanho normal! Não tendo nada melhor em vista, Claire volta a morar com sua excêntrica família: duas irmãs, uma delas obcecada pelo oculto, e a outra, uma demolidora de corações; uma mãe viciada em telenovelas e com fobia de cozinha; e um pai à beira de um ataque de nervos. Depois de muitos dias em depressão, bebedeira e choro, Claire decide avaliar os prós e contras de um casamento de três anos. E começa a se sentir melhor. Aliás, bem melhor. É justamente nesse momento que James, seu ex-marido, reaparece, paea convence-la a assumir a culpa por te-lo jogado nos braços de outra mulher. Claire irá recebê-lo, mas lhe reservará uma bela surpresa...


Você pode até ter achado estranho o título do post (por que diabos um blog literário estaria falando sobre frutas?) mas na verdade eu quero falar do livro Melancia, de Marian Keyes, com quem tive uma relação de amor e ódio ao longo das 489 páginas (calma, vou explicar isso melhor...)
Pra começar digo que sofri muito bullying por ter lido. Quando eu fui comprar minha tia se virou para mim e disse: "Não acredito que você vai comprar um livro chamado Melancia!"
E quando eu cheguei em casa minha outra tia disse: "Pra quem lê livros de guerra, ler um livro chamado Melancia agora é triste, ein?"
É, eu sofri bullying. Isso porque elas nem souberam que pra coroar o livro é um chick-lit. Chick-lit é, digamos, um "livro de mulherzinha". É um gênero literário que explora mais o universo das mulheres. Sinceramente não tenho vergonha nenhuma de dizer que li um livro desse gênero e que quero ler outros, como Férias!, Sushi, Um Bestseller Para Chamar de Meu, enfim, todos os outros de Marian Keyes. A verdade é que é um livro muito legal, muito bem-humorado, engraçado, algo mais descontraído. Não vamos dizer que é um livro que traz ensinamentos ou grandes aventuras, mas é divertido, vale a pena ler. 
O livro trata de Claire que, logo após ter a filha (a quem demora capítulos e mais capítulos para dar o nome) é abandonada pelo marido, James, que ainda confessa ter um caso com a vizinha de baixo. Ela sai do hospital, já recuperada do parto, e decide voltar pra casa da mãe, na Irlanda (ah, ela morava em Londres com o marido). Começou aí minha relação de amor e ódio. Num primeiro momento eu gostei do livro de verdade. A coisa estava fluindo. Mas chegou a parte realmente chata. Claire fica depressiva por causa da separação, e depois passa por uma fase de agressividade extrema. E, como o livro é em primeira pessoa, o tempo todo (não estou exagerando) ela fala sobre James e Denise (a vizinha). James e Denise pra cá. James e Denise pra lá. James e Denise aqui. James e Denise ali. QUE ÓDIO!
Confesso que nessa parte pulei alguns parágrafos (que no fim foram completamente inúteis, já que não fizeram falta no entendimento do resto da história). Ela só falava sobre os dois. Ou sobre ele. E imaginava como ele estaria sendo cuidado por ela. E imaginava os dois na cama. Sério, isso irritou. Mas eis que ela finalmente acorda para a vida (depois de uma quantidade infinita de páginas), e o livro volta a valer a pena. Claire vai ao mercado com a filha e gasta uma fortuna no cartão de crédito para que James pague, etc. Ler seu "despertar" foi muito gratificante, pois significou que eu sobrevivi e não joguei o livro pela janela nos momentos que me deram raiva. É num jantar que Claire se propôs a dar para a família no dia de sua recuperação que encontra Adam, um amigo de faculdade de sua irmã que ela leva pra casa. 
O livro tem um ritmo um tanto quanto lento, e boa parte dele é feito de devaneios de Claire. Pouco depois da metade (quando Claire realmente supera a separação de vez) James volta. Ele vai pra Irlanda atrás dela, e faz uma das coisas que me fizeram considera-lo o personagem mais odiável de todos os livros que eu já li na vida. James quer uma reconciliação, mas faz parecer que estava fazendo um favor a Claire aceitando-a de volta, e ainda faz acusações sem cabimento sobre como ela era egoísta e imatura e que no fim o fato de ele ter arranjado uma amante e desfeito o casamento foi culpa dela!
Eu queria entrar na história e atirar na cabeça dele. Se ler James acusando Claire já me encheu de raiva de novo (mas dessa vez maior que quando ela estava na depressão), quando ela aceita que tudo era mesmo sua culpa e diz que voltará para Londres com ele foi demais pra mim. 
É, por isso foi uma relação de amor e ódio. Mas no final das contas (não vou contar para não estragar a surpresa do livro) acontece algo que realmente fez tudo valer a pena. Acontece algo que me fez ter ficado feliz por não ter jogado o livro pela janela quando pude. É muito legal! Toda a raiva que senti dela foi embora! 
Muitos dizem que Claire é uma personagem principal chata demais. Em alguns pontos em concordo, porque ela em sua depressão e no seu momento de agressividade foi realmente irritante. Mas nos momentos em que ela age como uma pessoa forte de verdade tudo fica perfeito.
Sua família é hilária e seus comentários e pensamentos sobre as coisas que vê/vive são ainda mais! Por exemplo quando ela fala sobre sua irmã, que cada vez leva um garoto diferente pra casa:

"Mamãe disse que Jim era realmente uma gracinha de pessoa, quando a gente o conhecia melhor.
E que era pecado encorajar alguém a acabar com a própria vida. 
Minha impressão era de que Jim sempre estava ali. Todas as vezes que eu chegava de casa, vinda de Londres, ele parecia rer despencado em cima da mesa da cozinha, com uma pequena nuvem negra em cima de sua cabeça, carregando por toda parte seu ar de tragédia, como quem carrega a um documento.
Mas eu sempre lhe dizia "Olá, Jim." Pelo menos era cortês. 
Embora ele me ignorasse inteiramente. 
Depois eu descobri o motivo. 
Em meu segundo dia em casa, vinda de Londres, a campainha da porta tocou, atendi e descobri, em pé no degrau da entrada, um corte de cabelo usando um grande e comprido casaco negro. 
Não tinha certeza se ele viera ver Helen ou mamãe, mas mamãe tinha saído, então chamei Helen. 
- Helen, Jim está à porta.
Helen desceu a escada, parecendo confusa. 
- Ah, olá Conor - disse ela para o sombrio jovem no degrau. Virou-se para mim.
- Onde está Jim?
- Bem... este aqui... não é ele? - perguntei, um pouco surpresa, apontando para o rapaz que usava o comprido casaco preto.
- Esse não é Jim, esse é Conor. Há mais ou menos um ano que não vejo Jim. Acho melhor você entrar, Conor - disse ela, de má vontade. - Ah, sim, esta é minha irmã, Claire. Está em casa, vinda de Londres, porque seu marido a deixou. Muito obrigada, Claire - rosnou ela para mim, zangada, enquanto levava Conor para a sala de estar. - Há um mês que estou evitando esse sujeito.
Não há dúvida de que ela arderá nas fogueiras do inferno. 
Pelo menos isso explica por que Jim me ignorava todas as vezes que eu dizia: "Olá, Jim."
Não era Jim, de jeito nenhum.
Mas era a cara de Jim.
E depois, todas as vezes que eu via Jim, dizia: "Olá, Conor."
Só que continuava errada.
O nome do sujeito agora era William.
Mas era igualzinho a Jim e Conor."

E quando Claire vai ao ginecologista?

"-Ahn, quando posso tornar a fazer sexo? - deixei escapar de repente.
(Ora, por que perguntei isso?)
- Bem, suas seis semanas passaram, então a qualquer momento que quiser - disse ele, cordialmente. - Poderia começar agora mesmo.
Atirou a cabeça para trás e gargalhou alto, depois parou abruptamente, enquanto visões do Conselho de Medicina e moções para que fosse caçado passavam pelo seu pensamento."

Tem também essa:

"Como disse alguém certa vez - alguém infeliz, sarcástico, um misantropo: "Liberdade é apenas mais uma palavra para definir a situação de quem não tem mais nada a perder."
Até ouvir isso eu pensava que liberdade era ser capaz de ir nadar menstruada."

Essas são algumas das partes do livro em que eu morri de rir. Eu ainda marquei várias outras (com post-its, nem pensar encostar marca-texto ou caneta em um livro meu), mas se fosse ficar escrevendo todas o post ficaria enorme. Eu nunca tinha lido um livro em que a comédia era o foco principal, e achei muito divertido. Não que me dê ensinamentos como os "livros de guerra" e tal mas são muito bons. Marian Keyes é uma autora legal, preciso ler mais livros dela. Aliás, as capas dos livros de Marian no Brasil são muito lindas! As edições estrangeiras não são tão bonitinhas assim. Olha só algumas das capas estrangeiras (e compare com a brasileira, que está lá em cima):




Geralmente é o contrário, mas no caso desse livro a capa brasileira é muito melhor...
Enfim, essas foram as minhas impressões sobre o livro Melancia, espero que tenham gostado! E se se interessaram pelo livro saibam que as edições de bolso são bem mais bonitinhas que as edições normais e adivinhem? Bem mais baratas! Se você tem preconceito contra pocket books e está disposto a gastar mais compre a edição normal, mas a edição pocket é muito mais legal, muito mais fofinha, vale a pena comprar.
Até a próxima ;D

6 comentários:

  1. Muito boa a sua resenha, eu me senti exatamente como você quando li Melancia... A Claire é chata, irritante, mas sem perceber a gente acaba se afeiçoando a ela...hehe
    Eu dei outras duas chances pra Marian Keys (também li Casório e Sushi), mas não consegui decidir se vale a pena, a mulher tem talento pra construir personagens chatas...
    Ah, parabéns pra sua falta de preconceito com a "chick-lit", tem coisas bem legais nessa área... já tentou Jane Austen? :)

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  2. Descreveu o livro super bem e concordo com você em tudo! Parabéns pela iniciativa e não deixar o "bullying" das tuas tias te fazer desistir.
    Ah, concordo também que a edição de bolso é bem mais "fofinha", assim como a capa brasileira é mais lindinha ^^

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  3. Oi, tudo bom? Espero que sim.

    Primeiro devo dizer que adorei seu blog, sério. Muito legal mesmo. É sempre bom conhecer blogueiros e ler coisas tão legais. Continue assim, ok? Estou seguindo e sempre que der passarei por aqui. Gostei mesmo!

    Sobre o post, só tenho uma coisa pra falar: adorei.

    Ah, também tenho um blog literário. Passa por lá depois. Quem sabe você não gosta do meu espaço? Ficaria agradecido, é claro!

    Deixo o link: http://www.diariodebordodeumleitor.com/

    Um abração,
    Igor Gouveia.

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    1. Obrigado!!
      Adorei o seu blog, também estou seguindo ;))

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  4. Adorei a resenha e ainda não tive a oportunidade de ler nenhum livro da autora, apesar de ter interesse e muita vontade de comprar algum, dou sempre prioridade a outros que curto, mas valeu mesmo ver mais uma opinião sincera sobre o livro, te espero lá no blog. Um abraço. http://www.cabanadoslivros.com.br/ Kívia (Comenta lá :D)

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  5. Adorei a resenha! Esse livro ainda não veio para Portugal mas estou a pensar em dar oportunidade a pelo menos um chick-lit (é verdade, eu nunca li nenhum).
    Sabe que eu sublinho os meus livros com marca texto?! Durante muito tempo quem apenas pensasse em falar isso eu dava um tapa na cara. Mas um dia comecei e agora nem acho tão mau assim. Um dia quando emprestar meus livros pra filhos e netos será engraçado eles verem as partes que eu mais gostei.
    www.fofocas-literarias.blogspot.pt

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