domingo, 1 de março de 2015

Filme da Semana: Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)

Oi, como vai?
Hoje estou aqui para falar sobre o espetacular Birdman, um dos maiores vencedores do Oscar deste ano, levando as estatuetas de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Original e Melhor Fotografia. E todos esses prêmios foram perfeitamente merecidos! 
O filme conta a história de Riggan Thomson, um ator muito conhecido pelo papel de Birdman (um famosíssimo super-herói), que recusou o convite para mais uma sequência e agora ingressou no mundo do teatro da Broadway para poder se reconstruir e perder a imagem que o super-herói deixou. 
Em um dos ensaios para esse teatro, que narra o drama de uma família, traições e crises existenciais, um dos atores do elenco sofre um acidente, e é substituído por Mike Shiner, interpretado por Edward Norton. Mike é um grande ator, porém com certos problemas comportamentais nos sets. 
Conhecemos também Sam, interpretada pela deusa Emma Stone, que acabou de sair da reabilitação e já está se envolvendo com drogas novamente, que tem certos problemas com o pai devido à falta de atenção e presença deste em seu crescimento, e que diz boas verdades em um dos melhores e mais profundos diálogos do filme. 
Para piorar, o teatro enfrenta a forte ameaça de uma influente crítica de peças, que odeia a indústria cinematográfica dos blockbusters da qual Riggan veio e promete destruir a peça e sua credibilidade, fazendo com que seja fechada nas primeiras sessões.



Essa é, em suma, a história de Birdman, que já se tornou um forte concorrente de Nightcrawler (confira a crítica aqui) entre os melhores filmes que já vi em 2015. Primeiramente, o que mais chama atenção e o que sempre é comentado em todas as críticas é o modo como foi filmado, completamente diferente do habitual e que rendeu ao longa o prêmio no quesito fotografia. 
O modo como foi gravado é praticamente um plano-sequência, e realmente pensei que fosse, até ler depois que não foi, mas foi feito para parecer um. Plano-sequência é aquele tipo de gravação sem edições nem cortes, em que a câmera é ligada em um ponto e passeia pelo cenário suavemente, fazendo parecer que as duas horas de filme foram gravadas em apenas um take. Nem os cortes mais básicos dos filmes são feitos, o que foi surpreendente e deu um toque muito diferente ao filme. Se lembre daquelas cenas em que dois personagens estão conversando. Geralmente, a câmera fica parada no rosto de um e, quando o outro começa a falar, há um corte e a câmera está apontando para o outro. Em Birdman, a câmera simplesmente se move até chegar ao rosto do outro personagem, mas de maneira sutil. Eu poderia citar diversos outros exemplos de como esse estilo de gravação é completamente diferenciado e muito bom, mas acho que já deu para entender.
Outro ponto que chama muito a atenção e que é uma das melhores coisas do filme é toda a crítica ao próprio cinema que ele traz. Os diretores de filmes "normais" (não digo indies, porque esses já não são feitos para alcançar um sucesso estrondoso mesmo (embora alguns alcancem)) odeiam blockbusters por não apresentarem tanto conteúdo e, ainda assim, monopolizarem a indústria cinematográfica. Os filmes de super-heróis são os maiores exemplos disso, e são criticados de maneira inteligentíssima, que vai desde à fonte do cartaz de Birdman na parede do camarim de Riggan ser igual à fonte dos cartazes de Homem de Ferro (inclusive, em um momento, a luz tampa o "bird" do nome, fazendo parecer que poderia estar escrito Iron Man 3) até ao desfile de personagens fantasiados ridiculamente de transformers e heróis. 
Uma das falas que mais me marcou foi a que a crítica disse para Riggan, depois de discutirem seu "passado" como ator: "você é uma celebridade, você não atua". Continuarei assistindo a filmes de super-heróis e tudo o mais, mas não há como discordar: a maioria dos filmes desse gênero não apresentam atuações boas, um roteiro bom ou tramas complexas e profundas, mas ainda assim atraem muito mais espectadores que filmes inteligentes como este.
Outro tema discutido é justamente a imagem que o ator traz de seu personagem mais famoso. O filme mostra que os atores "mascarados" interpretam por tanto tempo esses personagens por lucro que, quando se dão conta, perderam sua identidade como atores e se tornaram apenas o herói. Essa reflexão trazida não poderia ser mais pertinente, em tempos em que os atores principais de blockbusters famosos buscam papéis cada vez mais diferentes para mostrarem que podem mais e se livrarem da imagem que os deixou estrondosamente famosos.



O roteiro brinca com os atores: Edward Norton, famoso por alguns problemas nos sets, interpreta um personagem que dá problema nos sets. E, principalmente, Michael Keaton, que interpretou o Batman antigamente e anda bem sumido atualmente, interpreta um personagem que interpretou um herói e que agora busca um retorno ao estrelato. 
É incrível o modo como um filme tão crítico ao próprio cinema conseguiu se tornar o maior vencedor do Oscar deste ano. Pelo visto, a Academia também não gosta muito dos blockbusters. 
Esse foi, certamente, a maior crítica de algum filme que já escrevi, mas é digna do filme a que se refere, e não há como não elogiar. Mais do que recomendado! 

Espero que tenham gostado, até a próxima ;D

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