quinta-feira, 16 de abril de 2015

Então eu assisti... Cinquenta Tons de Cinza


- contém spoilers -

Pois é, caros amigos, assisti ao filme Cinquenta Tons de Cinza, e já adianto que foi uma experiência surpreendente.
Desde que os livros se tornaram um fenômeno mundial, tive a curiosidade de ler. A literatura erótica sempre fora meio rejeitada: os livros eram invisíveis nas prateleiras das livrarias e acredito que muitas mulheres tinham vergonha de serem vistas comprando (caso se interessassem por ler livros assim). Já aí, a curiosidade mórbida me foi instigada: o que esse livro tem que os outros não têm? Por que todos comentam abertamente sobre o senhor Grey e suas peripécias, mas não se sentiam tão confortáveis para comentar antes? 
Baixei o ebook do livro e não consegui prosseguir: muito mal escrito e com uma protagonista irritante, não aguentei ler muitas páginas e logo abandonei-o, concordando com todas as críticas feitas a ele. Eu sei, os livros eróticos são destinados  a mulheres (ao menos a maioria), mas creio que o bom-senso esteja presente em ambos os sexos (ou devia estar) e não consegui entender como a história se tornou tudo aquilo. 
Quando surgiram as primeiras notícias sobre a adaptação, de certa forma acompanhei, pois estava novamente curioso, dessa vez para saber que atores seriam os desvairados (e um pouco mercenários, talvez?) de encararem o projeto. Eis que surgiram os nomes Jamie Dornan (que fazia um papel completamente oposto em Once Upon a Time) e Dakota Johnson. 
No mês retrasado, o filme estreou, e as críticas por parte das fãs do livro foram incrivelmente negativas: elas, que esperavam uma adaptação aos ares de Ninfomaníaca (um filme muito bom sobre o qual falarei em um dos próximos Filmes da Semana), receberam um filme com muito romance e poucas cenas de (perdoem-me o uso do termo) putaria forte. 
Com tantos comentários acerca de uma história assim, mesmo que você seja um ser humano dotado de bom gosto e até uma certa erudição, não importa o sexo, fica difícil não ter a curiosidade desperta, e não há como resistir. Portanto, lá fui eu baixar o filme (já em qualidade HD, mas com uma legenda em chinês que rapidamente aprendi a ignorar), e sinto que consigo entender um pouco de todo o hype acerca da "história de amor e sado" entre Grey e Steele.



Grey é um empresário jovem, influente e muito rico, porém dono de um passado perturbador, que é entrevistado por Anastasia quando ela vai substituir sua amiga, a verdadeira estudante de jornalismo. Em uma das cenas mais ridículas que já presenciei, Ana cai (de quatro) na porta da sala de Christian, e desde então já percebi que não deveria levar o filme muito a sério.
Com o tempo, a história dos dois se desenvolve, mas esse desenvolvimento acontece de uma maneira um tanto controversa, pela qual não culpo os envolvidos com o filme em si, mas a autora e o forte cheiro de Crepúsculo do qual a história é impregnada. Christian decide que não pode mais viver com Anastasia por ela se declarar uma garota romântica. A manda para casa, dizendo que eles não devem ficar juntos, e é só a mulher chegar em casa que recebe presentes do empresário. 
A história dos dois se desenrola de maneira um tanto estranha, sem a química que esperamos encontrar entre os protagonistas de filmes românticos, com o homem rico se mostrando atencioso, cuidadoso e enchendo a moça de presentes caríssimos. Basicamente, o homem dos sonhos de muitas por aí. Até que ele revela seus gostos um pouco peculiares: é adepto do sadomasoquismo, um dominador que possui em sua casa um quarto destinado somente aos "jogos" que gosta de praticar. 
Chega a ser interessante a cena em que os dois discutem os termos de um contrato que Grey faz acerca das práticas que os dois terão, no qual ela concordaria tanto com a parte "divertida" quanto com coisas um tanto humilhantes e que não parecem ser tão prazerosas assim.
Anastasia, como não podia deixar de ser, acaba concordando com os termos de Grey (e somos obrigados a ouvir o clássico "I don't make love, I fuck hard"), e conhecemos um pouco mais sobre o playground do rapaz e as relações que eles têm lá dentro.



Para quem já viu Ninfomaníaca, o filme mais explícito que você pode imaginar, é um tanto engraçado ver as cenas amenizadas deste, justo o contrário do que todos esperavam. 
Acontece que, junto com essa parte que eu disse ser a "divertida", podemos perceber como Christian leva seus termos ao pé da letra, chegando a ser doentio: Ana não pode tocar nele a não ser que ele autorize (quando ele vai beija-la, sempre coloca os braços dela para trás, e isso já diz bastante sobre sua personalidade), faz com que ela espere de joelhos, como uma escrava, na porta do quarto vermelho, e ainda (o mais absurdo) quer puni-la fisicamente por atos que toma. E essa punição quer dizer palmadas fortes e cintadas, o extremo da humilhação.
E foi justamente isso que salvou o filme e me surpreendeu, me mostrando que não é tão ruim quanto eu pensava (mas isso não quer dizer que seja bom). Tudo o que eu conseguia pensar ao longo do filme era em como seria interessante um momento em que Christian abusasse de tudo aquilo, despirocasse (termo que não tem nada a ver com a palavra "piroca", deixando claro) e fizesse algo de que Ana realmente não gostasse. Dito e feito.
Na que, para mim, foi a melhor cena do filme, Grey dá fortes cintadas em Ana como punição, e ela toma as rédeas da sua vida, deixando de ser simplesmente a submissa que concordara em ser, e toma uma atitude. Eu sei, isso tudo será estragado no segundo filme, mas não importa. Como conclusão para este, mesmo que seja aquele clássico cliffhanger para te manter esperando pelo próximo capítulo, acredito que não poderia ter terminado de maneira melhor.
Mesmo que não seja um bom filme em questão de conteúdo, com diálogos um tanto imbecis e com um ar de fanfic de Crepúsculo que sempre se faz presente, e um romance que também não se mostra dos melhores, é um filme muito interessante de se acompanhar.
As brechas abertas para reflexão não foram implantadas estrategicamente pela autora, como Machado fez em Dom Casmurro, mas são resultado de uma péssima escrita que se refletiu no filme. De qualquer forma, essas brechas para reflexão existem, e não há como simplesmente assistir como um filme qualquer sem se pegar tentando entender a cabeça de Christian e de Ana.
Também é muito interessante para se entender todo o hype, a expectativa que foi criada em torno dessa história. É até "entendível" o modo como a história sobre um homem que praticamente utiliza a garota como escrava sexual, agredindo-a e expondo-a ao ridículo em certos momentos, consiga ser tão gostada e o lugar de Steele seja tão desejado em tempos de manifestações de feminismo e de um sentimento de que a mulher não precisa se submeter a homem nenhum. 
Assim como Crepúsculo atingiu adolescentes sonhadoras com um príncipe, Cinquenta Tons atingiu até mesmo as mais mulheres mais independentes que sonham com um homem teoricamente atencioso e cuidadoso que as encham de presentes e ainda seja "bom de cama". Esse tipo de livro mexe com um lado um tanto primitivo da mulher, que pode até ser renegado, mas não deixa de estar presente em boa parte delas. 
Há muito sobre o que pensar quando se trata de Cinquenta Tons de Cinza, desde que você não veja o filme pensando só em como serão representadas as cenas de sexo. Desta forma, as duas horas de duração simplesmente não são horas perdidas, e recomendo!

Espero que tenham gostado, até a próxima ;D

4 comentários:

  1. Eu amo a trilogia, porém me decepcionei quando houve a comparação com crepúsculo que é um serie que não me atraiu tanto os livros quantos o filmes não gostei. Eu não vi o filme ainda, porém varias pessoas falam mal, e dizem que só é sexo, nada do romance, que foi o que me fez gostar dos livros. Acho que cada pessoa diz algo diferente desse filme, o que me faz querer ver logo, logo!!

    http://literafeto.blogspot.com.br/

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  2. Eu admito que tenho um preconceito enorme acerca dessa história, não minto. Mas é que, partindo de alguém que leu toda a saga Crepúsculo, como posso esperar algo de uma ex fanfic da mesma? Não me desce, haha. Curiosidade já tive, até porque, não tem como com toda essa repercussão, mas sinceramente, perdi totalmente o interessar de ver, talvez mais tarde, quando não tiver algo mais útil para fazer, hahah. No mais, adorei tua crítica, bem construída!
    Desfocando Ideias

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  3. eu adoro livros eroticos e n tenho vergonha de comprar, apesar de n ter idade certa pra isso mas ok pq pra mim n existe isso, so aos olhos dos outros que tem essa 'discriminacao' mas eu n ligo mt nao, quando comecei a ler 50 tons de cinza, diferentemente de voce eu amei, o primeiro livro confesso que eu achei um pouco pesado ate pq eu n tinha lido mts livros eroticos e pra mim esse eh mt forte, mas os outros sao mais leves e a historia flui, o primeiro livro vc fica um pouco sem entender a historia mesmo mas dps ela vai entrando nos eixos.. sobre o filme pra mim foi uma otima adaptacao, gostei de tudo menos da escolha dos atores mas isso foi o de menos
    tonsdeleitura.blogspot.com

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  4. Oi Adan, tudo bem?

    Olha, se tem um livro que eu passo longe é Cinquenta Tons. Sério mesmo. Sinceramente, não me desperta o interesse. Acho doido uma boa parte das mulheres terem achado o livro romântico, sendo que ele praticamente faz da companheira uma escrava sexual.

    Adorei sua crítica!
    Abraços,
    Rafa-Eu + Livros
    www.eumaislivros.com.br

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