sábado, 28 de fevereiro de 2015

Leituras obrigatórias: estímulo ou calvário?

Oi, como vai?
Hoje estou aqui para trazer uma discussão sobre um tema que acho bastante pertinente: as leituras obrigatórias. As leituras obrigatórias são aqueles livros que a escola faz com que você leia para resolver alguma prova, algo que divide opiniões. Afinal, esses livros estimulam o aluno a ler, ou mostram àquele que odeia livros que literatura é algo realmente muito chato? 
Estou no segundo ano do ensino médio e, desde o quinto ano (pelo que me lembro, mas pode ter sido antes) no colégio tenho que ler livros para provas. Os livros de antigamente eram todos fofinhos, cheios de ilustrações, com histórias tranquilas e perguntas fáceis nas provas. Mas, como não poderia deixar de ser, o nível dos livros e das provas aumentou, até que hoje, no colegial, lemos clássicos da literatura brasileira e respondemos a questões com enunciados gigantes e complicados.
Hoje em dia, no colegial, entendo que devemos ler esses livros por causa das listas dos grandes vestibulares. A Fuvest, da USP, o vestibular da Unicamp, todos eles requerem a leitura de alguns livros clássicos da literatura brasileira. Essa lista muda de certo em certo tempo, e é dever das escolas, no colegial, fazer com que os alunos leiam e realizem estudos em cima desses livros para que cheguem a esta grande prova preparados para a pergunta que vier. Nesse campo, não há questão de ser um estímulo ou não, afinal a escola não está nem aí se você gosta de ler fora dela ou não, mas sim que você saiba o que acontece em determinada obra para que passe em uma boa faculdade. 
Mas, por trás de tudo isso, eu, como aluno, observo as reações dos colegas há muitos anos com relação aos livros que devemos ler, e são as mais diversas. Agora, no colégio em que estudo, recebo os livros com as apostilas, já com cara de estudos e não de literatura para, bem, nosso prazer. E posso ver muitos dos colegas deixando os livros completamente de lado, dizendo que pesquisarão resumos e ficará por isso mesmo. 
Certo dia, estava eu com uma colega quando ela me pediu o livro Contos, de Machado de Assis, para ler, pois tinha esquecido o dela em casa. Emprestei no momento, como o cidadão solidário que sou, mas percebi que ela dobrou completamente o livro pra ler, como se fosse uma dessas revistas de fofoca que trazem spoilers dos finais das novelas na capa. Mas o pior foi que, quando pedi a ela para que não segurasse daquela maneira, ela me indagou: "Mas você vai guardar esse livro depois?".
Fiquei um tanto perplexo, pois era óbvio que eu guardaria e que ela não faria o mesmo com o dela. O livro é dela, ela trata da maneira como quiser, mas foi muito estranho observar que, para ela (na verdade, para muitos), o livro era uma coisa descartável, que perderia completamente a utilidade após a prova. 
Ver o descaso com que as pessoas que não têm o costume (talvez o dom) de ler tratam os livros para provas me fazem pensar: qual é a utilidade deles para a formação de leitores, afinal de contas?
Muitos livros podem ser cansativos, como Iracema, de José de Alencar que, confesso, foi o único que recorri aos resumos por não conseguir ler de jeito algum (é uma escrita cansativa e uma história que, ao menos para mim, não trouxe nada de interessante), mas muitos dos livros trazem histórias muito boas e que mereceriam mais... consideração. 
Para uma pessoa como eu, que ama leitura, não é problema algum ler livros da escola, que trato com tanto zelo quanto trato os que compro/ganho, mas fico refletindo sobre o papel deles com aqueles que não gostam. Nunca é tarde para descobrir os prazeres da leitura mas, se aquela pessoa que não gosta de ler tiver que ler apenas livros complexos, que trazem uma linguagem quase estrangeira para ele, que ele será pressionado a terminar para responder a algumas questões, qual será o prazer nisso?
Conversando com alguns amigos há alguns anos, quando ainda estava no fundamental, descobri algumas escolas com esquemas mais interessantes: dos três ou quatro livros do ano, um poderia ser escolhido pelos alunos. Assim, cada um poderia descobrir do que gosta, e talvez, a partir daquele, começar a ler muitos outros que não fossem obrigatórios, só pelo prazer de ler. 
Entendo que isso não pode ser feito no colegial, justamente por causa da enorme carga de matéria e pelo fato de lermos esses livros por um motivo maior que não é a descoberta da leitura, mas, se desde o fundamental esse hábito é tratado de maneira obrigatória, como uma criança/pré-adolescente desenvolverá gosto por isso? 
Os livros obrigatórios, que teriam como objetivo principal estimular o hábito de leitura, pode acabar tornando a prática um calvário para os alunos e, aí, como fazer para que essa imagem seja mudada em suas mentalidades?
Nos meus primeiros dias de aula neste ano, um professor perguntou à sala quantos livros tinham lido no ano, tirando os obrigatórios. Respondi "por volta de trinta", o que foi uma resposta um tanto chocante para os alunos que, em suas respectivas vezes de responder, lançavam "hm... nenhum", ou, o que é pior: "nem os obrigatórios eu li". 
Fazendo uma breve pesquisa, já encontrei manchetes desanimadoras e que provam que as leituras obrigatórias não tem muita força no ato de formar um leitor. Pelo contrário:



A redução da leitura foi medida até entre crianças e adolescentes, que leem por dever escolar. Em 2011, crianças com idades entre 5 e 10 anos leram 5,4 livros, ante 6,9 registrados no levantamento de 2007. O mesmo ocorreu entre os pré-adolescentes de 11 a 13 anos (6,9 ante 8,5) e entre adolescente de 14 a 17 (5,9 ante 6,6 livros).
Fonte: Veja 

Para a supervisora da Fundação Educar DPaschoal, a queda no número de leitores se deve, principalmente, à falta de incentivo dos pais, mas essa é uma discussão para outro post. Como podemos perceber já nesse trecho, a leitura obrigatória nada está fazendo para formar novos leitores, com ou sem incentivo familiar. 
Agora lanço a vocês também essa discussão: você aí, que está lendo esse post, tendo um blog ou não, o que pensa sobre o assunto? Você acha que leituras obrigatórias ajudam a formar novos leitores, ou que acaba deixando-os com ainda menos vontade de ler?
O pior tipo de analfabeto é aquele que sabe ler, mas que não lê. E essa taxa de analfabetismo não para de crescer no Brasil. 

10 comentários:

  1. Oi, tudo bom?
    Muito legal da sua parte trazer o assunto a tona, é algo que pode causar um debate muito construtivo! Eu amo ler, e nem tento mais convencer meus colegas a aderir ao hábito, por que sei que nem adianta mais... Não gosto muito de ler os livros que a escola manda, mas procuro sempre ler e complementar com resumos e resenhas da internet para o caso de eu não ter entendido alguma parte. Na minha opinião, a escola deveria introduzir a leitura na vida do aluno de uma forma diferente, desde os primeiros anos, com ações e também fazendo com que alunos leiam além dos clássicos de vez em quando, livros de entendimento mais fácil e tals. Beijos!

    www.resenhandoaarte.blogspot.com/

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    1. Eu sempre procurei os pontos positivos para tentar ler bem os livros obrigatórios antigamente, mas nunca gostava. Hoje gosto muito dos clássicos que leio pela escola, e são livros que, se não fossem pedidos, eu iria querer ler do mesmo jeito. Não serão úteis apenas para as provas, mas para a vida mesmo. O único problema é que ainda me sinto muito mais interessado pelas minhas outras leituras, e preciso me organizar para não deixar nenhum deles de lado, ou a leitura do obrigatório se tornará maçante.
      Beijos!

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  2. Eu acho essas pesquisas meio controversas , em dado momento dizem que os jovens estão lendo mais e em outros que já não leem tanto. Acho uma discussão bem válida e madura, talvez ultimamente com tantos estímulos de internet, essa "onda" de informações que (tenta ou consegue algumas vezes) nos afogar diariamente tira o interesse em pegar um bom livro e passar horas lendo. Agora sobre esse tema: acho complicado pedir para que uma turma de alunos leia determinado livro, seria melhor se o incentivo viesse desde as séries iniciais, assim se tornaria mais fácil e não algo maçante. Também acho que o outro lado é o dos professores que podem tentar aliar mais as leituras com uma discussão que esteja em pauta na matéria que estão trabalhando, se torna mais fácil pro aluno relacionar. Já pra quem quer concorrer em uma federal ... não tem jeito, tem que ler mesmo. Minha humilde opinião!
    ps: também não curto que o povo que não goste de ler estrague os livros u__u
    Abraços Adan!
    http://coisasdeumleitor.blogspot.com.br/
    http://coisasdeumleitor.blogspot.com.br/

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    1. Em meu colégio atual nós temos esses livros aliados à matéria, mas porque são das listas dos vestibulares e realizamos estudos em cima deles em partes da apostila. Mas, no fundamental, os livros passados eram apenas discutidos e depois pedidos nas provas, de maneira que quem lesse um resumo poderia ir bem do mesmo jeito. Assim, creio que desde sempre o hábito de pesquisar resumos foi estimulado, mas o hábito da leitura do livro em si...

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  3. Oi Adan, tudo bem?

    Achei muito interessante esse seu post, pois é uma coisa que eu realmente já me peguei pensando várias vezes.
    Vou cursar o primeiro ano do Ensino Médio agora (sim, ainda não comecei por motivos de greves) e o único ano em que nos pediram para lermos algo mais complexo foi ano passado. Minha professora pedia para lermos um livro que nós queríamos e outro que ela pedia.E olha... Até eu, que sempre fui acostumada à ler tudo que via pela frente, achei uma chatice ter que ler os livros obrigatórios. Meus amigos então, nem se fala!
    Acho os clássicos importantíssimos, mas infelizmente os brasileiros em geral não tem o costume de ler. Na minha opinião, se as escolas incentivassem os alunos à lerem livros divertidos, muitos ficariam mais familiarizados com a leitura e já estariam mais "preparados" para encararem um Machado de Assis ou um José de Alencar.
    Se a escola não faz isso, acho que isso também poderia partir dos próprios professores de português e literatura. Eles mesmos podem fazer uma "auto-reciclagem" e se modernizarem ao apresentar a literatura aos alunos. (:

    Abraços,
    Rafa-Eu + Livros
    www.eumaislivros.com.br

    P.S.: Já regularizei aquele problema com o seu banner lá no blog. Mil desculpas!
    P.S. 2: Te indiquei para uma Tag: http://www.eumaislivros.com.br/2015/02/tag-confissoes-de-uma-bibliofila.html

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    1. No fundamental eu não gostava da maioria dos livros por parecer um insulto à inteligência do aluno. No nono ano, por exemplo, tivemos que ler uma adaptação infantil de Hamlet. Sim, sei que não é fácil ler o original e que muitos recorreriam ao resumo sem pensar duas vezes, mas para quem gostava de ler ficava uma tarefa tão chata quanto para quem não gostava.
      Eu não gostava de ler os livros obrigatórios, a não ser que já estivessem em minha wishlist, mas meu estímulo já tinha vindo de casa há muito tempo, então não me atrapalhou em nada. Mas penso... se pra nós, que já amamos ler, os obrigatórios são chatos assim, imagina para aqueles que já acham a literatura chata de qualquer maneira?
      Abraços, e obrigado por me taguear, logo responderei!!

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  4. Muito interessante o assunto que voce abordou no post! Confesso que também já me peguei pensando várias vezes no assunto, mas nunca tinha elaborado uma opinião concreta sobre isso! Agora posso dizer que na minha opinião a leitura de livros na escola é certíssima, pois só tem o que acrescentar seja com a história, lições ou a gramática mas o gosto pela leitura, o amor, o cuidado com cada folha lida vai de pessoa por pessoa, pois creio eu que se eu fosse destinada a ver filmes no lugar de livros não seria tão satisfatório quanto um livro.

    abraços!

    http://jessicagumiero.blogspot.jp/

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  5. Ola, em minha opiniao, acho que nao deveria existir leitura obrigatoria.
    Percebi que muitos afirmam que a escola deveria começar com as leituras obrigatorias desde criança e tals, a minha escola manda leitura obrigatoria desde a segunda serie do fundamental e nao acho que isso tenha sido bom nem que tenha estimulado as crianças a serem leitoras.
    Estou no segundo ano do ensino medio, as provas do livro sao supersimples, eu leio todos os livros obrigatorios, mas quando chega na prova, percebo algumas vezes, que quem nao leu o livro consegue se dar melhor por ler resumos na internet do que quem realmente leu os livros. Eu por exemplo, na prova sobre Dom Casmurro, fui pior que meu amigo que leu um resumo de duas paginas na internet. Isso me indignou e de certo modo, me desistimulou um pouco.
    Porem hoje continuo lendo os obrigatorios, mas sou exeçao, em minha classe de 32, apenas 14 leiem os obrigatorios e desses 14, apenas 5 leem ate o fim.
    Acredito que os classicos sao muito detalhados, e com uma linguagem muito rebuscada, o que desistimula a leitura.
    Acho que os vestibulares poderiam atualizar a lista, tipo em vez de mandarmos ler livros de mil oitocentos e sei la quando, poderiam modernizar pelo menos para livros do seculo 20.
    Enfim, adoro seu blog, beijos ;)

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  6. No meu caso eu com certos livros foi um obrigação mesmo, mas outros me atraíram muito. Eu penso que seria ideal fazer com que os alunos buscassem algum livro de seu interesse pra fazer com que eles explorassem um pouco esse universo. Confesso que não leio muitos clássicos e nem tive incentivo de leitura por meios dos meus pais, mas eu me apaixonei pela leitura assim que aprendi a ler. Não posso afirmar que leio desde pequena apenas dei os primeiros passos e minha paixão ficou adormecida até alguns anos atrás quando tive como comprar e me interessei por determinados livros.
    São vários os fatores que tornam os brasileiros alheios a leitura como a tecnologia, redes sociais, falta de dedicação, acesso, preço, entre outros.
    Concluindo acho que é a curiosidade que vai impulsionar qualquer um a se tornar um leitor.

    yanna-pas@hotmail.com

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  7. Muito legal o seu post! Olha, acho que ser obrigado a ler certos livros acaba tornando a leitura forçada e massacrante! Acho que se as escolas trouxessem livros mais "atuais" teriamos muito mais leitores por ai hoje em dia, o que infelizmente ainda não é realidade!
    www.palavrasefogo.blogspot.com.br

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